Mulher preta, atleta paralímpica de alto rendimento e influenciadora. Raissa Machado sabe o peso que a própria imagem carrega. Ela é recordista mundial em lançamento de dardo e medalhista de prata em Tóquio 2020 e Paris 2024.
“Eu sempre quis ter uma referência quando comecei no esporte. Hoje essa referência sou eu. É muito legal, mas ao mesmo tempo requer muita responsabilidade”, diz a atleta em entrevista ao videocast Zona Segura, da MAG Seguros.
Com mais de 154 mil pessoas acompanhando sua rotina no Instagram, Raissa entende que sua presença nas redes sociais extrapola o universo do esporte paralímpico.
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“Você tem que saber se colocar, tem que ter postura. Não é qualquer postura que a gente pode ter hoje, principalmente nas redes. Eu acredito que estou no caminho certo, mostrando um pouco mais da minha vida e mostrando para as pessoas que, independente da deficiência, você consegue se for 100% verdadeiro”, afirma.

Para ela, tentar se encaixar em um personagem é receita para frustração. Sua “estratégia”, como define, é mostrar a própria versão mais evoluída, mas real.
“Tem dia que você vai acordar feliz, tem dia que vai acordar mal-humorado, tem dia que vai acordar triste. Nas redes a gente mostra o que quer, mas quem convive comigo sabe: eu não sou de dar sorrisinho para todo mundo. Quando eu tenho que chegar, conversar, te dar atenção e te impulsionar, eu vou fazer. Eu sou esse tipo de pessoa.”
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É daí que nasce a frase que ela repete com humor — e que ajuda a explicar o impacto que provoca nas pistas e fora delas.
“Eu sou a Fera por fora e a Bela por dentro. Tem gente que quer tirar foto e fala: ‘eu não quero porque você tem cara de mal’. Não, é só a cara mesmo”, brinca.
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“O meu esporte não é um esporte tão feminino. É um esporte mais bruto, eu preciso treinar todos os dias igual aos caras. E, para isso, eu também tenho que impôr respeito. Então acabo sendo um pouco mais dura, e isso vai para a vida também.”
Sair da “caixinha”
Se a imagem forte impõe respeito na pista, o que Raissa diz querer deixar como legado passa longe da ideia de perfeição.
“Meu legado é muita inspiração para as pessoas em ser o que elas são. Seja você. Acho que esse é o legado: as pessoas se aceitarem do jeito que são”, resume.
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A fala vem de quem passou anos encaixada em estereótipos sobre deficiência. Uma delas era a ideia de que uma mulher com má-formação congênita nos membros inferiores não poderia morar sozinha.
“‘Uma cadeirante mora sozinha? Como você lava suas roupas? Como limpa uma casa? Quem faz comida pra você?’ Eu!”, diz sobre questionamentos.
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“Tenho dois braços muito fortes, graças a Deus, e quatro rodas. Eu faço coisas com as minhas quatro rodas que tem pessoas que, tendo as pernas, não fazem. Talvez porque não querem. Eu faço porque eu quero.”
“Vou te mostrar que eu e você conseguimos”
Ao se colocar como exemplo de autonomia, Raissa faz questão de não romantizar o esforço, mas também não aceita que a limitação física vire desculpa.
“Não é porque eu imponho um tabu dizendo ‘eu não vou conseguir’ que eu vou aceitar isso e desistir. Eu vou conseguir e vou te mostrar que todos também podem”, afirma.
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É essa mensagem que ela gostaria de ver ecoando depois que deixar as pistas.
“Esse é o meu legado: deixar para as pessoas que elas conseguem o que elas quiserem. Só basta querer, acreditar e correr atrás. Porque eu estou aqui correndo atrás do mundo”, diz.
Aos 29 anos, ela planeja seguir competindo por muitos anos ainda. “Até os 72 eu tô aí”.




